Realizou-se no dia 28 de Outubro, no Convento do Beato, em
Lisboa, o 5º Congresso da Indústria Portuguesa Agro-alimentar, este ano
dedicado à “Competitividade e Crescimento”.
O tema surge numa altura de grandes desafios para o sector, sendo um dos
objectivos da iniciativa ressaltar a importância e valorizar a indústria
alimentar e das bebidas como um dos principais pilares da recuperação económica
do país. O Congresso contou com a participação de empresários, gestores de topo
e quadros desta indústria, que partilharam a sua visão estratégica perante os
vários desafios que se colocam às empresas numa conjuntura de mudança.
Na sessão de abertura, intervieram o Secretário de Estado da
Agricultura, Diogo Albuquerque (em representação da Ministra da Agricultura e
do Mar), António Saraiva, Presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP)
e o Presidente da FIPA, Jorge Tomaz Henriques. A encerrar o Congresso,
interveio o Secretário de Estado Adjunto e da Economia, Leonardo Mathias.
Nos painéis de debate, moderados pelo Jornalista Nicolau Santos,
foram abordados os principais desafios que se colocam à economia nacional, aos
consumidores e ao panorama da sustentabilidade. Foram também debatidos os principais
factores de mudança e os constrangimentos que o sector necessita de ver
ultrapassados. Foi significativa a participação do sector das Bebidas, com
destaque para as intervenções de Nuno Pinto de Magalhães, da Sociedade Central
de Cervejas (Presidente da APIAM, em representação da Sociedade Água do Luso),
de João Abecassis, CEO da Unicer Bebidas, de Miguel Garcia, Director de
Planeamento Estratégico da Sumol Compal e de António Casanova, CEO da Unilever
Jerónimo Martins.
INTERVENÇÃO DO PRESIDENTE
DA FIPA
(Jorge Tomaz Henriques)
Na intervenção de abertura, o Presidente da FIPA destacou que,
apesar das dificuldades, «o sector tem-se recusado a baixar os braços. Houve
empresas que arriscaram e investiram, tentaram melhorar a qualificação dos seus
recursos humanos como forma de adaptar os postos de trabalho e reter
competências, mas acima de tudo, muitas perceberam que o mercado é global e que
teriam que olhar para o exterior como forma, diria mesmo a única forma, de crescer!»
Referiu pretender sublinhar «… uma perspectiva optimista, pois
Portugal tem dado demasiada atenção aos profetas da desgraça».
No entanto, não deixou de lançar «alguns avisos à
navegação»:
« …
- Continuamos a viver um ambiente de escassez de financiamento
aos projectos de investimento. Este é um problema que continua à espera de
resolução e que está a amputar a dinâmica de crescimento;
- Vivemos
na iminência de um período prolongado de inflação substancialmente abaixo da
meta ou de deflação e, embora o BCE tenha recentemente afastado este último
cenário, receamos que se esteja a entrar numa espiral de decréscimo
generalizado dos preços de bens e serviços que, ao contrário do que pode
parecer numa primeira análise, terá um efeito negativo na economia e irá ameaçar a retoma e o ajustamento em curso, facto que teria um
impacto ampliado em Portugal;
- Assistimos a uma
permanente ameaça velada de mais e mais impostos, que nascem sob o auspício do
seu impacto na saúde ou no ambiente mas que visam apenas o engordar da receita
fiscal. Mais do que a carga fiscal, já por si estranguladora das empresas e
cidadãos, teme-se esta permanente incerteza que afasta grande parte do
potencial investimento;
- A elevada taxa de IVA em várias categorias de produtos
alimentares, com enorme diferencial face à vizinha Espanha, bem como a taxa de
23% aplicada ao sector da restauração, retira competitividade às nossas empresa
e, infelizmente, veio confirmar o cenário de retracção do consumo que a FIPA,
por antecipação, traçou ao Governo …»
A concluir e olhando para
o futuro com confiança o Presidente da FIPA, sublinhou:
« …
- Acreditamos que podemos evoluir no sentido do reforço da
cadeia de valor. Torna-se hoje imperativo continuar um trabalho já iniciado de
aproximação e diálogo entre os vários elos. Com a recente adequação do quadro
legal das práticas individuais restritivas do comércio às novas realidades,
cumpre-nos continuar o trabalho conjunto iniciado com os nossos parceiros. É
com particular agrado que anuncio que a FIPA está a contribuir activamente, no
seio da CIP, para que seja alcançado, a nível nacional, um código de
boas-práticas eficaz, consistente e que possa ser subscrito por todas as partes
interessadas;
- Acreditamos na internacionalização do sector e estamos a
trabalhar nesse sentido. Recordo que a FIPA apresentou ao Ministério da
Agricultura e do Mar uma visão que espelha a realidade das empresas e as
sinergias público-privada que têm de ser ciadas para que Portugal se afirme
cada vez mais no mercado global da alimentação e bebidas. Temos tido um papel activo
e estamos empenhados na concertação de esforços. É necessário trabalhar no
sentido da valorização dos produtos produzidos em Portugal e das marcas
nacionais com real capacidade exportadora, porque sem marcas fortes Portugal
não conseguirá atingir as metas a que se propõe.
- Acreditamos no potencial de inovação das empresas do sector.
Temos trabalhado com o Governo para o estabelecimento de uma estratégia
consistente e estamos empenhados em contribuir para a consolidação de um
cluster económico devidamente abrangente e de dimensão nacional, no âmbito do
novo processo de reconhecimento. Este é um desafio que não pode deixar de
contar com a FIPA.»
A versão integral da intervenção do Presidente da FIPA pode ser visualizada AQUI
O NOVO CICLO DE COMPETITIVIDADE E CRESCIMENTO (António Lobo Xavier)
Na intervenção do Key Note Speaker, António Lobo Xavier, abordou O NOVO CICLO DE COMPETITIVIDADE E
CRESCIMENTO da economia portuguesa, o período de ajustamento económico e
financeiro e as consequências e expectativas que dele resultam.
Abordou também a
retoma (contida) após período de forte ajustamento económico e financeiro,
tendo sublinhado:
- HOJE, Portugal está a
afirmar-se como uma economia exportadora, com as exportações a chegarem a um total de 41% do
PIB (2 T 2013) e a apresentarem o maior crescimento na União Europeia (15), no
período entre 2011 e 2013.
- HOJE,
Portugal está a transformar-se numa economia com mais inovação, com um ambiente atractivo no que diz respeito a parceiro de destino neste
segmento:
. Portugal tem características diferenciadoras que
evidenciam um enorme potencial na capacidade de actuar como plataforma
industrial e tecnológica
. É um dos países europeus que mais investiu
no seu sistema nacional de inovação
(seja em infra-estrutura, seja em capital humano);
. Tem condições
únicas para actuar como plataforma de I&D, de teste e validação de
produtos e serviços com objectivo comercial;
. Uma enorme
capacidade logística e económica e facilmente conectável com os
grandes parceiros europeus, da América Latina e Africa (250M de falantes em
português em todo o mundo).
- HOJE, Portugal está a
transformar-se numa economia mais empreendedora com 34.000 novas empresas criadas, entre
Maio de 2013 e Abril de 2014 (50% de emprego jovem).
Porém sublinhou que
a transformação estrutural é um processo contínuo, havendo ainda barreiras para derrubar,
em particular ao nível: do acesso ao crédito; da
burocracia; do sistema fiscal.
Não obstante referiu que as empresas já instaladas em Portugal
mostram-se satisfeitas pela capacidade de Portugal atrair bons investimentos
destacando que há uma estratégia para o país que estabelece objectivos claros, ambiciosos
e mensuráveis alinhados na estratégia Europa 2020. Referiu:
- Aumentar o
potencial de crescimento do PIB (2,2% em 2020);
- Aumentar as
exportações (52% do PIB em 2020, hoje 41 %);
- Reforçar o peso da
indústria na economia (18% do VAB, hoje inferior a 15 %);
- Melhorar o
contexto dos investimentos (TOP 5, no ranking do Banco Mundial, hoje no TOP 10);
- Aumento do nível
de emprego (75% em 2020, hoje 66%);
- Reforço do
Investimento em I&D (2,7% em 2020, hoje 2%).
Assinalou, também,
algumas das reformas estruturais encetadas, designadamente:
- Reforma da legislação laboral
- Reprogramação do direccionamento dos fundos
estruturais para a produção de bens e serviços transaccionáveis
- O Plano Estratégico de Transportes
- O Plano Estratégico para o Empreendedorismo
e Inovação
- O Plano Estratégico Nacional de Turismo
- Legislação reguladora de prazos de pagamento
e de combate às práticas restritivas do comércio
- Nova Lei da Arbitragem; Novo Código de
Processo Civil; Nova Lei das Insolvências
- Medidas Activas de emprego
Abordou ainda a reforma do código do IRC
focando as oportunidades que a mesma pode representar para as empresas, em
termos de investimento, promoção do emprego e competitividade.
Por fim
referiu-se ao contexto político e económico internacional
e ao contexto político nacional sublinhando a importância de estabilidade e previsibilidade na política macroeconómica,
nas políticas económicas sectoriais e nas políticas fiscais que devem excluir
opções de fiscalidade criativa.
"AMBIÇÃO 2020 - NA
ROTA DO CRESCIMENTO" (Nuno Netto, Partner da Deloitte)
No congresso da Federação da Indústria Portuguesa
Agro-alimentar, Nuno Netto, Partner da Deloitte, apresentou um trabalho desenvolvido numa parceria entre a
FIPA e a Deloitte com vista a estabelecer as expectativas dos empresários sobre
o potencial de evolução do sector até 2020
O estudo apresentado pela
Deloitte mostra que a indústria alimentar e das bebidas assume hoje o
incontornável estatuto de maior sector industrial do país. O seu Volume de
Negócios atinge os 14 600 Milhões de euros e os postos de trabalho directos
ascendem a 104 000. O nível de exportações têm crescido de forma sustentável
esperando atingir no final deste ano um novo valor record, ultrapassando os
4.250 Milhões de euros registado no final de 2013.
Para mais informação sobre o
estudo da Deloitte ver nesta Newsletter “A importância da Indústria Agro-Alimentar para o
crescimento da economia - Estudo da Deloitte no 5º congresso da FIPA".
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